segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma abadia no Palácio Foz - 28 Setembro 2012

Há aaaaanos que queria visitar isto.
Os contactos com o Gabinete para os Meios de Comunicação Social, que gere o espaço tinham sido constraditórios e inconclusivos.
As Jornadas Europeias do Património, no passado mês de Setemebro, ofereceram-me uma oportunidade, por onde me infiltrei.

E, a exemplo do que já fiz uma vez, aqui ao lado, vou deixar falar quem sabe escrever. Alexandra Passos Coelho, num artigo na revista do Público, há alguns meses atrás


"Estou sozinha na Abadia, na cave  do  Palácio Foz,  em  Lisboa.   Há uma ou outra luz num canto, mas  de  resto   o  espaço está  mergulhado   numa  meia  penumbra, e o  som  dos meus  passos   ecoa no  chão  de pedra.  Há um poço que,  dizem, conduz aos  subterrâneos de Lisboa,    há pombas brancas nas   paredes, e, vendo  melhor,   também  gaivotas, e  elefantes com as trombas enlaçadas, e videiras que sobem junto ao tecto. Há uma estátua de um  homem   dobrado sustentando uma coluna, e outra de um dragão com corpo  de mulher.

"Clavstrvm", lê-se por cima de uma arcada. A profusão de elementos decorativos é tal e tão  variada que demoramos algum  tempo a habituar os olhos à luminosidade e a conseguir   perceber tudo o que  nos  rodeia. No início do século XX, a Abadia era  um  restaurante que  servia   para  reuniões secretas   da  Maçonaria,   e também da sociedade dos  Makavenkos, o grupo  criado   por  Francisco   de Almeida  Grandella com  o objectivo    fundamental    de se dedicar a jantaradas e à boa vida - ou,  como  eles diziam  (e como  se pode  ler em Memórias   e Receitas Culinárias dos  Makavenkos, da Colares   Editora), "dar largas à alegria e elasticidade à tripa".

Foi na Lisboa do século XVIII que os marqueses de Castelo Melhor encomendaram ao arquitecto   italiano Francisco Xavier Fabri  o projecto do  Palácio que ainda  hoje  existe  nos  Restauradores. Quando, depois   de interrupções várias,  as obras  terminaram finalmente   em 1858,  o palácio   era sumptuoso e tinha (no local onde está hoje  a Cinemateca Júnior) a primeira capela privada   da cidade.

Mas  tornou-se  ainda  mais  faustoso pela mão do Marquês da Foz, que o comprou em 1889  e  o decorou com  o  que de mais luxuoso  existia naquele tempo. No início do século  XX, o fim  da monarquia aproximava-se  e o recheio do palácio foi  leiloado, tendo,  em 1902, sido alugado a Manuel  José  da Silva,  dono do Anuário Comercial. Este subalugou parte do edifício ao  Circo  Price, que ali criou um teatro. Em 1910,  o Palácio Foz passou para  as mãos do Conde de  Sucena, que alugou o espaço para vários tipos  de comércio - ali funcionou a certa altura a delegação dos EUA,  o  Club  Maxim's,  o Central Cinema,  e a elegante Pastelaria Foz,  com
cinco portas para  a rua e em cuja cave  se escondia o restaurante Abadia.

Aqui em baixo  é um pequeno labirinto. Do Clavstrvm passamos para o Refectorium - um espaço
inspirado nos mosteiros da Ordem de Cister - onde,  do seu lugar junto  ao tecto, nos olham 24 bustos em miniatura de homens e mulheres, alguns com as insígnias maçónicas brilhando no  peito. O guia Lisboa insólita e secreta, de Vítor Manuel Adrião, explica que a estátua do homem  dobrado   sustentando uma  coluna,   mesmo   ao  lado  do poço,   representa o  Grande   Arquitecto do  Templo da Virtude e da Sabedoria, possuidor dos  segredos da Arte  Real (a Geometria e a Matemática).

Já me  esqueci que lá fora fica a Avenida da Liberdade e que, subindo a escadinha atrás de mim  vou dar à sala onde estão as funcionárias do  Gabinete para os  Meios de Comunicação Social,   que hoje funciona no Palácio Foz  (e que pode  ser contactado para visitas guiadas à Abadia).

Na cave é outro mundo. E se ficarmos um bocado não é difícil começar a ouvir, lá ao longe,  os vozeirões animados dos maçons ou dos makavenkos, fumando  charutos, dizendo graças, e descendo para mais um grandioso jantar - ou, quem sabe, para uma decisiva reunião secreta - entre as paredes misteriosas da Abadia, observados apenas pelas gárgulas, os  elefantes e o Grande  Arquitecto."













O mancha negra

Não ia ao Palácio Foz desde os meus tempos de juventude, quando lá ia visitar a Techica. Tudo aquilo de que me lembrava eram a enorme escadaria e a estátua de Salazar, togado de doutor, no meio do pátio principal.
Depois do 25.4, a estátua foi retirada, mas foi posto um quadrado negro, no seu lugar

Outras fontes sobre o Palácio Foz:



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